11.4.18

Sobre Mulheres Excelentes, de Barbara Pym




«Este livro é, por isso, uma comédia romântica que sugere decididamente, de forma nada romântica, que a sua narradora poderá ser mais feliz sozinha. No contexto de uma Londres pós-guerra, nos primórdios do feminismo e no fim do colonialismo, esta obra encontra a sua força em muito mais do que numa crítica social. O mundo retratado em Mulheres Excelentes não é um mundo de pobreza real: sabemos de início que uma guerra ocorrera, mas não as motivações desta e, se é verdade que as personagens de Pym parecem ter conhecido dias melhores, o romance transcende o seu contexto histórico particular. Isto porque Pym é exímia a retratar a ironia subtil e o pathos inerente ao nosso quotidiano: o prazer singelo que é comprar flores; o sentimento quase deprimente de regressar a casa para encontrar um frigorífico sem nada; jantar sozinha um ovo cozido e ouvir os risos estridentes dos vizinhos; o momento constrangedor que é ficar sem tema de conversa numa festa; o conforto de uma chávena de chá depois de um longo dia; a procura racional de uma desculpa para se beber aguardente sozinha; ou até mesmo a tentativa falhada de apimentar a vida com um novo batom.


Barbara Pym captura astutamente a realidade simples e transparente que é tentar chegar a algum lado e ao mesmo tempo aproveitar a viagem, um mundo de vaga saudade que ultrapassa quaisquer particularidades históricas, tornando-se intemporal.» [Joana Graça, Forma de Vida, 4/4/2018; texto completo em https://formadevida.org/recensoes/144-barbara-pym-2017-mulheres-excelentes-joana-graca ]

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