24.8.17

Sobre Retalhos do Tempo, de John Banville




«Em miúdo, John Banville visitava Dublin quando fazia anos, uma vez que o seu aniversário coincida com o feriado da Imaculada Conceição. Entediado em Bedford, onde nasceu, imaginava Dublin como se imagina Moscovo nas “Três Irmãs” de Tchékhov: uma “terra prometida”. Na verdade, a capital era uma cidade pobre, cinzenta e feia, como descobriu quando lá se instalou, aos 18 anos. Dois mundos coexistiam em Dublin. De um lado, a opressiva supremacia da Igreja Católlica. do outro, a boémia de escritores e artistas, excêntricos, egotistas, alcoólatras. Banville ainda vislumbrou Patrick Kavanagh ou Flann O’Brien, e depois conheceu os seus pares John Montague, John McGahern, Seamus Heaney. Mas, ao contrário de “Imagens de Praga” (2203), “Retalhos do Tempo — Um Memorial de Dublin” (2016) não é um texto culturalista: é uma confissão.
Durante décadas, o cosmopolita Banville não usou a sua cidade como matéria de ficção, sob pretextos de que Joyce tinha esgotado o tema. Mas nos últimos anos isso mudou. E este livro dedica-se ao “reencantamento” de Dublin: as ruas georgianas, os jardins botânicos e os parques gigantescos, os antigos cinemas majestosos, alguns pubs e restaurantes, o quarteirão de Baggotonia, sítios biográficos ou sítios desconhecidos que Banville visita na companhia de um cicerone a que chama Cicero [o texto é acompanhado por fotografias de Paul Joyce] (…) [Paulo Faria traduz, em boa prosa, a boa prosa inglesa, mas também as baladas e os poemas citados, e não se coíbe de manter no original palavras saborosas como “usherette” ou “louche”.]» [Pedro Mexia, Expresso, E, 19-8-2017]

Sem comentários:

Enviar um comentário