31.5.17

Na morte de Denis Johnson


Denis Johnson faleceu no passado dia 24 de Maio, aos 67 anos, em Gualala, na Califórnia, onde vivia. O escritor e poeta nasceu em Munique e cresceu em cidades como Tóquio, Manila e Washington. Foi aluno de Raymond Carver, a quem foi frequentemente comparado. Publicou nove romances, cinco livros de poesia, uma novela e três peças, entre outras obras. Venceu um National Book Award e esteve duas vezes na shortlist do Pulitzer de ficção.
A Relógio D’Água publicou o seu primeiro romance, Anjos, e a novela Sonhos e Comboios, que Anthony Doerr considerou “uma pequena obra-prima”.



29.5.17

A chegar às livrarias: Memórias do Subterrâneo, de Fiódor Dostoievski (trad. de António Pescada)





«Eu sou um homem doente… Sou um homem mau. Sou um homem nada atraente. Penso que sofro do fígado. Aliás, não percebo patavina da minha doença nem sei ao certo de que é que sofro. Não me trato e nunca me tratei, embora respeite a medicina e os médicos. Além do mais, sou supersticioso em extremo; bem, o suficiente, ao menos, para respeitar a medicina. (Tenho instrução bastante para não ser supersticioso, mas sou supersticioso.) É por maldade que não me quero tratar. Isto é uma coisa que vocês, leitores, por certo não podem compreender. Pois, mas eu compreendo.»
[PVP: € 10,00]

Sobre Inverno no Próximo Oriente, de Annemarie Schwarzenbach










«A viagem, em Annemarie Schwarzenbach, excede, porém, o ensaio de uma fuga — na geografia e no tempo, quando não em ambos simultaneamente, como é o caso vertente — às sobredeterminações biográficas, e históricas e políticas. Embora a certa altura, após ter visitado a antiga catedral de Tartus, na Síria, se interrogue, justamente, sobre “se não teria sido já […] uma espécie de fuga à Europa” que motivara os cruzados. E é verdade que, em Ur, no Iraque, a propósito de achados do terceiro milénio antes de Cristo e de depósitos sedimentares datando do “dilúvio”, o arqueólogo britânico Leonard Woolley lhe “fala amorosamente de todas estas coisas e dos acontecimentos que evoca como se tivessem sucedido na véspera”. Mas Annemarie não perde de vista a escala humana e prosaica, quando não usurpadora e nefasta, do presente. Vemos, aliás, emergir, neste livro, uma das pequenas e cómicas desgraças do nosso tempo: a industrialização do turismo dito cultural.» [Marco Santos, Público, ípsilon, 26/5/17]

26.5.17

A chegar às livrarias: O Homem Que Via Passar os Comboios, de Georges Simenon





O Homem Que Via Passar os Comboios foi publicado em 1938.
Tornou-se um dos policiais mais famosos de Georges Simenon, sendo adaptado ao cinema em 1952 por Harold French.
O livro narra a brusca descida ao universo do crime de Kees Popinga, depois de o patrão lhe ter anunciado a sua ruína. Kees vai vingar-se e tornar-se um outro homem. Aproveitando a ausência de “sinais particulares”, rompe com a sua vida medíocre, mergulhando no mundo do crime.

25.5.17

Sobre O Sul seguido de Bene, de Adelaida García Morales




Carlos Vaz Marques fala sobre O Sul seguido de Bene, de Adelaida García Morales, no programa Livro do Dia, da TSF, de 24 de Maio.
O programa pode ser ouvido aqui.

24.5.17

Colóquio sobre Raul Brandão





Realiza-se em Sintra o colóquio Primavera Eterna, a propósito dos 150 anos do nascimento de Raul Brandão e do centenário de Húmus.
O colóquio, com início dia 25 de Maio, conta com a participação de Vítor Pena Viçoso, Maria Helena Serôdio e Vasco Rosa, entre outros, e encerra no dia 28, com uma visita aos Capuchos guiada por Miguel Real.
Até agora a Relógio D’Água publicou Memórias (Tomos I, II e III), A Farsa, História Dum Palhaço e A Morte do Palhaço, Vida e Morte de Gomes Freire e El-Rei Junot, Os Pescadores e Húmus.

Sobre As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift




«Um clássico da literatura que tem fascinado os mais novos (…)
As coisas complicam-se para o leitor adulto, já investido da capacidade de decifrar a ironia cáustica do autor e o significado da palavra “misantropia”. Quanto mais avança na narrativa e compreende a alegoria político-social que também o implica, mais se convence de que a intenção não é divertir nem informar, antes baralhar a verdade e a mentira, o bom e o mau, o certo e o errado.» [Carla Maia de Almeida, Ler, Primavera 2017]

23.5.17

Hélia Correia recebe Prémio Escritora Galega Universal 2017





O galardão, uma estatueta de porcelana com a imagem da poeta Rosalía de Castro, foi entregue numa cerimónia no Teatro Principal na Gala do Livro Galego — organizada em conjunto pela Associação de Escritoras e Escritores de Língua Galega, a Federação de Livrarias da Galiza e a Associação Galega de Editoras.
Na altura, Hélia Correia deu uma entrevista que pode ser lida aqui.





Nova adaptação televisiva de Anne das Empenas Verdes






Anne das Empenas Verdes, de Lucy Maud Montgomery, tem uma nova adaptação televisiva. A série, Anne with an E, é transmitida na Netflix e estreou no dia 12 de Maio.

«É um milhão de vezes melhor ser a Anne das Empenas Verdes do que a Anne de nenhum sítio em especial.»

Quando Anne Shirley chega a Avonlea surpreende toda a gente e abala a calma do lugar. Mas rapidamente a sua imaginação fértil a deixa em apuros…

Sobre Arquipélago das Galápagos ou As Ilhas Encantadas, de Charles Darwin e Herman Melville





«Um capítulo de A Viagem do Beagle, de Charles Darwin, acrescenta-se ao pequeno texto de Herman Melville sobre as Galápagos (traduções, respectivamente, de Miguel Serras Pereira e Margarida Vale de Gato) — o que parece informação mais do que suficiente. Agora é ler; e visitar as ilhas.» [Ler, Primavera 2017]

22.5.17

A chegar às livrarias: Contos, de Beatrix Potter (trad. de Inês Dias)




Beatrix Potter amava o campo e passou grande parte da sua infância a desenhar e a estudar animais.
Nasceu em Londres em 1866. Teve uma infância solitária e na juventude estudou Arte e História Natural. Passava as férias nos campos da Escócia e mais tarde na Região dos Lagos.
Iniciou-se como escritora e ilustradora para crianças quando tinha 35 anos. O conto Pedrito Coelho foi publicado em 1902.
Nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), era já uma escritora popular, publicando novos contos quase todos os anos. Quando se tornou economicamente independente, comprou uma quinta na Região dos Lagos e, depois de, em 1913, se casar com o seu advogado William Heelis, estabeleceu-se ali de modo permanente.
Na última fase da sua vida, dedicou-se a gerir as suas terras e à conservação da natureza.

19.5.17

Sobre Na Penúria em Paris e em Londres, de George Orwell





«Em 1933, 15 anos antes de publicar 1984, — que ficará para a história do pensamento como uma das mais marcantes distopias do nosso tempo, George Orwell (1903-1950) publica o relato autobiográfico da sua vagabundagem em busca de trabalho, ou em trabalhos precários — ou sem trabalho. O conhecimento do inferno e da pobreza na terra.» [Ler, Primavera 2017]

De George Orwell a Relógio D’Água publicou também Ensaios Escolhidos e Dias Birmaneses.

18.5.17

Bill Gates às vezes também acerta





Bill Gates aconselha por Twitter aos seguidores «o “livro mais inspirador” que alguma vez leu: The Better Angels of Our Nature, de Steven Pinker, um professor de psicologia da Universidade de Harvard. Na obra, Steven Pinker explica que a era contemporânea é “menos violenta, menos cruel e mais pacífica do que qualquer período anterior da História humana”, apesar de muita histeria pública criada pelo excesso de informação disponível.
Segundo Bill Gates, o livro é crucial para perceber que o mundo está melhor do que há várias décadas: “Isso é importante porque se pensarmos que o mundo está a melhorar, vamos querer espalhar o progresso a mais pessoas e lugares.”
Graças à recomendação de Gates, as vendas do livro dispararam 581,850% em menos de 24 horas e a obra de Steven Pinker passou de 11 639.º lugar na lista de vendas da Amazon.com para o segundo lugar, apenas atrás do livro “Finish: Give Yourself the Gift of Done”. O mesmo efeito verificou-se no site britânico da Amazon, onde o livro de Steven Pinker está também na segunda posição da lista de vendas graças a um aumento de mais de 2000 %.»
A obra foi publicada pela Relógio D’Água em Setembro de 2016.

A chegar às livrarias: Benito Cereno, Bartleby, Billy Budd, de Herman Melville (trad. de Frederico Pedreira, José Miguel Silva, José Sasportes)


«Bartleby, que data de 1853, antecipa Franz Kafka. O seu desconcertante protagonista é um homem obscuro que se recusa tenazmente à ação. O autor não explica, mas a nossa imaginação aceita-o imediatamente e com muita pena. (…)
Billy Budd pode resumir-se como a história de um conflito entre a justiça e a lei, mas esse resumo é bastante menos importante que o carácter do herói, que matou um homem e que não compreende até ao fim porque é que o julgam e condenam.
Benito Cereno continua a suscitar polémicas. (…)  Há quem tenha sugerido que Herman Melville se propôs a escrita de um texto deliberadamente inex­plicável que fosse um símbolo cabal deste mundo, também inexplicável.» [J. L. Borges]

17.5.17

A chegar às livrarias: O Regresso de Mary Poppins, de P. L. Travers, com ilustrações de Susana Oliveira (trad. Helena Briga Nogueira)





Puxada das nuvens pela corda de um papagaio, Mary Poppins está de volta. Com ela, as crianças da família Banks conhecem o Rei do Castelo e o Grande Marmelo, visitam o mundo de pernas para o ar do Senhor Doavesso e da sua noiva, a Mna. Tartelete, e passam uma intensa tarde no parque, suspensos num conjunto de balões.

«Mary Poppins nunca consegue distinguir o mundo real do da fantasia. E o mesmo acontece ao leitor. Essa é uma das características da grande fantasia.» [The New York Times]

16.5.17

A chegar às livrarias: Os Miseráveis, I e II, de Victor Hugo (trad. de Júlia Ferreira e José Cláudio)




Publicado em 1862, Os Miseráveis permanece, ao longo de mais de um século e meio, um dos romances mais importantes e populares de toda a literatura.
A obra teve cerca de 65 versões cinematográficas, a primeira delas em 1909.
Victor Hugo terminou de escrever Os Miseráveis quando contava sessenta anos. Através da personagem de Jean Valjean, o autor empreendeu uma vasta acusação sobre as desigualdades sociais da sua época.






Os Miseráveis não é apenas a narrativa de desgraça e reabilitação de um forçado às galés, vítima da sociedade, mas antes de tudo uma história do povo de Paris.
A vida de Jean Valjean e a ligação que tem com Cosette é o fio condutor da narrativa. Através das suas vidas e encontros, desenha-se um fresco social variado, uma imagem de uma humanidade miserável, mas capaz de todas as grandezas. Homem do povo, esmagado por sucessivas humilhações, Jean Valjean assume as expiações dos pecados do mundo e, num esforço para se resgatar, assume o destino trágico da humanidade em busca de um mundo melhor.

15.5.17

A chegar às livrarias: Ripley debaixo de Água, de Patricia Highsmith (trad. de Fernanda Pinto Rodrigues)



Tom Ripley leva uma vida calma e luxuosa num château em Villeperce e, como sempre, mantém-se um passo à frente da lei. O seu passado, como se sabe, não resistiria a qualquer tipo de escrutínio…
O quinto romance da série mostra-nos Ripley como um sofisticado e amoral expatriado Americano a ser assediado por David Pritchard, um antigo colega que conhece inexplicavelmente detalhes incriminatórios do passado de Ripley, e está determinado a expô-lo.
Pritchard segue todos os movimentos de Ripley, primeiro espiando-o na sua casa em França, depois seguindo-o até Marrocos. A tensão culmina quando, no regresso a Villeperce, Pritchard tenta localizar um corpo que Ripley preferia que permanecesse oculto dentro de um rio.

«Os livros da série Ripley são uma leitura maravilhosa e compulsiva.»
[The Times]

«É estranho pensar em alguém interessado por ficção contemporânea que não tenha lido a saga Ripley.»
[Daily Telegraph]

De Patricia Highsmith, a Relógio D’Água publicou O Desconhecido do Norte Expresso, O Talentoso Mr. Ripley, O Amigo Americano, A Máscara de Ripley, Carol ou o Preço do Sal e As Duas Faces de Janeiro.

Sobre Vislumbres da Índia, de Octavio Paz




«Octavio Paz foi embaixador do México na Índia durante os anos 60. Desse período resultou um pequeno, belo e pessoalíssimo livro acerca daquele universo de religiões, disputas políticas, heranças culturais, modos de vida, paisagens deslumbrantes ou angustiantes, atmosferas abafadas — mas sempre motivo de atração e escrita.» [Ler, Primavera 2017]

A chegar às livrarias: O Homem Invisível, de H. G. Wells (trad. Alda Rodrigues)






Em O Homem Invisível, H. G. Wells narra a transformação de um homem até um estado de brutalidade, causado pelo seu fascínio pela ciência.
Griffin — um homem com o rosto coberto por ligaduras, olhos ocultos por trás de uns óculos escuros e mãos cobertas — é o novo hóspede da pousada Coach and Horses. Apesar de todos assumirem que o seu estado se deve a um acidente, a verdade é bastante mais estranha.
Griffin descobriu um processo de se tornar invisível, e está agora em busca do antídoto. Quando é expulso da aldeia e se vê impelido para o assassínio, Griffin procura a ajuda do seu amigo Kemp. Mas o destino que o aguarda afeta-lhe os pensamentos, e, quando Kemp se recusa a ajudá-lo, Griffin resolve planear a sua vingança.

12.5.17

Sobre Poemas Escolhidos, de Yorgos Seferis



«Em 1993, a publicação desta antologia — numa tradução de Joaquim Manuel Magalhães e de Nikos Pratsinis — revelou aos leitores portugueses um poeta tão importante como Yorgos Seferis (1900-1971), Nobel da Literatura em 1963. Esta reedição mantém uma preciosidade: a sua característica bilingue.» [Ler, Primavera 2017]

A chegar às livrarias: Relatório Minoritário e Outros Contos, de Philip K. Dick (introdução de Jonathan Lethem, tradução de Paulo Faria)



Relatório Minoritário e Outros Contos é uma seleção das doze histórias mais importantes de Philip K. Dick. O conjunto é representativo de toda a sua obra, e revela-nos um autor em pleno domínio das suas capacidades narrativas.

«Um escritor incrível, idiossincrático e inteligente… Philip K. Dick ilumina. Emana luz. Tem uma aura.» [Washington Post]

«Uma seleção dos melhores contos de Philip K. Dick… essencial para apreciadores.» [The Onion A. V. Club]

11.5.17

A chegar às livrarias: A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson (ilustrações de N. C. Wyeth)





A Ilha do Tesouro é um dos livros de viagens e mistérios em que a aventura começa na primeira frase.
«O fidalgo Sr. Trelawney, o Dr. Livesey e os outros cavalheiros pediram-me que registasse, preto no branco, todos os pormenores a respeito da Ilha do Tesouro, tudo de cabo a rabo, omitindo, porém, os elementos relativos à situação geográfica da ilha, porque permanece lá, ainda, uma parte do tesouro que ficou por desenterrar.»
E para muitos autores esta obra de Stevenson continua a ser a grande referência.

«A história mais bem contada que conheço.» [Álvaro Mutis]

«Sou da geração que ele fez sonhar e penso que Corto Maltese se dirige aos que leram Stevenson.» [Hugo Pratt]

Hélia Correia nomeada Escritora Galega Universal 2017


A Asociación de Escritoras e Escritores en Lingua Galega (AELG) decidiu nomear Hélia Correia Escritora Galega Universal 2017, na assembleia geral de Fevereiro.
O presidente da AELG destaca a “qualidade literária” da escritora portuguesa, em cuja obra a Galiza “está muito presente”, afirmando que Hélia Correia “sente a Galiza como um prolongamento da sua pátria”.
O galardão será entregue no próximo dia 20 de Maio na capital da Galiza.

A chegar às livrarias: Arte de Cozinha, de Domingos Rodrigues (Leitura, apresentação, notas e glossário por Maria da Graça Pericão e Maria Isabel Faria; Palavras Prévias de Inês de Ornellas e Castro)






«Reeditar a Arte de Cozinha de Domingos Rodrigues na íntegra, com as suas três partes, impunha­‑se, e com urgência, tal é a proliferação de arremedos que, no intuito de satisfazer um público crescente de interessados, ousam — e seja­‑me permitido o coloquialismo gastronómico — servir gato por lebre. Trata­‑se do primeiro livro de cozinha impresso em Portugal, escrito por um profissional que pretende industriar com rigor os seus colegas. A recepção que a obra teve, após a edição princeps com as partes I e II de receituário em 1680, a necessidade por parte do autor de acrescentar, em 1693, uma parte III sobre o serviço de banquetes, demonstram que haveria, já então, um público específico. E assim foi, como se verifica pelas inúmeras reedições dadas à estampa até, pelo menos, 1863.» [Das Palavras Prévias]

10.5.17

Sobre Joseph Conrad




«Para quem periodicamente regressa à leitura de Conrad ou ainda não leu o essencial do autor de O Agente Secreto, aqui está a reunião de pelo menos três livros indispensáveis para as boas bibliotecas — e para bons leitores.» [Ler, Primavera 2017]

Sobre As Artes do Sentido, de George Steiner




«Como explica Ricardo Gil Soeiro no prefácio, esta antologia é reunida pela primeira vez (com coordenação do próprio Soeiro) e contribui para compreender melhor o núcleo central da obra de um dos mais importantes pensadores contemporâneos. A não perder.» [Ler, Primavera 2017]

9.5.17

Sobre A Associação das Pequenas Bombas, de Karan Mahajan




«Num mundo onde no rescaldo de cada novo atentado brotam peritos e analistas a proferir, em tom sentencioso, banalidades e dislates sobre terrorismo, Mahajan levanta questões verdadeiramente perturbadoras. Por exemplo, sobre o que leva alguém a tornar-se um terrorista: Ayub começou por ser o mais ferrenho adepto da não-violência na Peace For All, uma ONG para a harmonia entre as comunidades religiosas e étnicas da Índia, e defendia um julgamento rápido e justo para os suspeitos do atentado de 1996, mas, quando deixado (e desprezado) pela namorada, Tara, esquece Gandhi e Martin Luther King e deriva para o terrorismo — no momento em que faz explodir uma bomba num mercado o seu único pensamento é “agora a Tara vai ouvir-me”.
Não menos enviesada e perversa é a lógica que toma conta do casal Khurana, que se torna líder de um grupo de apoio às vítimas de “pequenas bombas”: o sucesso da sua associação é tanto maior quanto maior for o número de vítimas, pelo que acabam por ansiar por mais atentados bombistas.» [José Carlos Fernandes, Time Out, 19-4-2017]

A chegar às livrarias: As Águas da Eterna Juventude, de Donna Leon (trad. Margarida Periquito)


Em As Águas da Eterna Juventude, vigésimo quinto livro da série Guido Brunetti, o comissário vê-se envolvido num caso que pode não ser um crime.
Brunetti encontra-se a investigar um processo arquivado a pedido da Contessa Lando-Continui, uma amiga da sua sogra. Quinze anos antes, Manuela, a neta da Contessa, foi encontrada num canal. Apesar de ter sido resgatada no último momento, era já demasiado tarde — sofreu graves danos cerebrais e a sua vida nunca foi a mesma. Em tempos uma cavaleira apaixonada, Manuela, agora com trinta anos, não se recorda do acidente, vivendo prisioneira de uma juventude eterna.
A Contessa, que não está convencida de que se tratou de um acidente, implora a Brunetti que encontre o culpado. Preso numa mistura de curiosidade, pena, e um estranho desejo de ajudar uma pessoa tão amável, Brunetti decide reabrir o caso. Mas, assim que começa a investigação, depara-se com um passado turvo.
As Águas da Eterna Juventude está repleto dos ritmos e preocupações da vida veneziana contemporânea, como a preservação histórica, o alojamento e as novas ondas de migrantes africanos, que rodeiam a história de uma mulher presa a uma infância perpétua.

Sobre O Que Maisie Sabia, de Heny James (trad. Daniel Jonas)




«Dividida pelo tribunal entre os pais — seis meses com um, seis com o outro — Maisie desenvolve a reação típica de fingir que não vê coisas, para desencorajar as perguntas. Assim se sujeitando a ser declarada estúpida, a par com outras crueldades gratuitas que lhe impõem. (…)
“O Que Maisie Sabia” funde a voz do narrador comm a da menina, alargando a flexibilidade e a perspetiva. Sem ter a preocupação de apresentar sempre diálogo — há bastante, e por vezes longo, mas só quando as circunstâncias narrativas o justificam —, oferece-nos a ironia e a inteligência extraordinária da prosa de James sem deixar que ela se sobreponha às perceções de Maisie. Mesmo nestas, aliás, quem quiser procurar ironias de outro tipo não terá falta de material. A ironia aí tende a ser triste, como seria previsível. Ao contemplar uma solução de vida sem a governanta que no fundo é a pessoa que mais ama, Maisie sente-se culpada: “A sua consciência de assim consentir na ausência daquela tão grata figura (…) mostrara-lhe, enfim, o que os seus pais quiseram sempre dizer quando se apodavam um ao outro de ‘ser rastejante’. Ela interrogava-se se não seria ela mesma um ser rastejante ao aprender a ser tão feliz sem a presença da Sra. Wix.” Mais tarde veremos até onde ia realmente a ironia.» [Luís M. Faria, Expresso, E, 6-5-2017]

8.5.17

A chegar às livrarias: Cair de Amores, de Donna Leon (trad. de Maria Eduarda Cardoso)





Em A Morte no La Fenice, primeiro romance desta série, Donna Leon levou os leitores ao glamoroso mundo da ópera e de Flavia Petrelli, uma das mais prestigiadas sopranos de Itália. Agora, Flavia regressa a Veneza como voz principal da ópera Tosca. Uma noite, depois de uma récita, Flavia encontra o seu camarim repleto de rosas amarelas. Demasiadas rosas… Um admirador anónimo tem-lhe oferecido prendas em Londres, São Petersburgo, Amesterdão, e agora em Veneza.
Ao mesmo tempo que confessa a Brunetti que se sente preocupada com as excessivas demonstrações de apreço, uma colega de profissão de Flavia é gravemente atacada, o que faz com que Brunetti se aperceba de que os receios de Flavia são afinal justificados. O comissário tem de se pôr no papel do admirador obsessivo antes que aconteça algo a Flávia, ou a qualquer outra pessoa em seu redor.

Sobre Veneza, Um Interior, de Javier Marías




«Javier Marías vai ao longo do livro, em capítulos curtos, divagando (muitas vezes com uma indisfarçável ironia) sobre assuntos como os venezianos, o arquipélago, a eternidade, o passeio nocturno, e o espaço ideal. Veneza, que chegou a ter 300 mil habitantes e hoje terá menos de 70 mil, é, para o veneziano, a Cidade por excelência, sendo o resto do mundo considerado “o campo”. Mas este não se move em toda a cidade, mas num espaço reduzido (mais ou menos aquele que os turistas lhe deixaram), é por isso que nos conta de uma idosa, natural de Veneza, que nunca passou pela praça de San Marco, recebendo notícias dela como se se tratasse de um lugar longínquo. São estes venezianos que Marías descreve como vestidos de uma maneira que parece que vão sempre para uma festa elegante, a qualquer hora do dia e em qualquer estação do ano, e as mulheres de pernas fortes de subirem tantas escadas e a caminharem sempre muito depressa.
Tentando fugir à tentação de escrever sobre o conhecido, sobre o muito de turístico desta cidade (que é “o único lugar do mundo” que o facto de não a visitar pode estragar a imagem final de uma pessoa por não ter cumprido “com as suas obrigações estéticas”), o autor enfia-se por vielas esconsas que só os locais conhecem, cafés e esplanadas onde os turistas não se sentam, praias e hotéis que não aparecem nos filmes, vistas que nenhum viajante vê. E ao fazê-lo compõe também uma imagem que se afasta do real e que se cola à ideia romântica de uma Veneza depositária de um tempo eternamente elegante; esta cidade de Marías, não sendo a dos turistas e viajantes, é a da aristocracia anacrónica e de uma classe média bastante abastada que em Agosto se desloca para as montanhas Dolomitas, que deve ser a maior distância a que se afastam da cidade, na sua “existência retirada”. São os mesmos que Javier Marías descreve como detentores de uma indiferença e falta de curiosidade pelo que não seja eles próprios e os seus antepassados e que não tem equivalente possível com a dos povos ensimesmados do norte da Europa. Não tendo, obviamente, estes textos propósitos de ‘guias turísticos’, funcionam de maneira quase perfeita como uma espécie de ‘ficção’ do real, que não o sendo poderia ser ou ter sido.» [José Riço Direitinho, Público, ípsilon, 28/4/17]

5.5.17

Sobre Cinco Contos sobre Fracasso e Sucesso, de Alexandre Andrade




«[N]inguém como Alexandre Andrade se tem dedicado a esta sofisticada e divertida desconstrução das expectativas e convenções ficcionais, em textos que são prodígios narrativos e pequenos enigmas. Devedor de Perec e de Barthelme, Andrade não foge aos enredos, mas os enredos escondem outros enredos, e temos de estar muito atentos à massa textual de enumerações lógicas ou caóticas diálogos e cartas e anúncios de jornal alusões ou imitações, apontamentos coloquiais e poemas.
“Projecto Malogrado de Restauro de Um Fresco Atribuído a Lorenzo Lotto; Montegranaro Primavera Verão de 1997”, o primeiro texto é sobre aquilo que o título indica. Mas será mesmo?» [Pedro Mexia, Expresso, E, 29-4-2017]
De Alexandre Andrade a Relógio D'Água publicou também Benoni e O Leão de Belfort.

4.5.17

A chegar às livrarias: Joanica-Puff e A Casa no Largo Puff, de A. A. Milne




Num lugar encantado, no cimo da Floresta, um rapazinho e o seu Urso estarão sempre a brincar.

Junta-te ao Puff, ao Porquito e a todos os seus amigos do Bosque dos Cinquenta Hectares nestas histórias sobre o Urso mais famoso do mundo. Entre outras aventuras, o Trigue descobre o que os Trigues gostam de comer, o Porquito faz um Feito Grandioso, e o Puff inventa um jogo novo.




“Tu és o Melhor Urso do Mundo”, disse o Cristóvão Pisco.
“Sou?”, perguntou esperançosamente o Puff.

Vem conhecer o Urso mais famoso do mundo através de histórias em que, entre outras aventuras, Puff se mete num aperto, quase apanha um Firão, e descobre o tipo errado de mel.

3.5.17

A chegar às livrarias: George Steiner em The New Yorker (trad. de Joana Pedroso Correia e Miguel Serras Pereira)





«Entre 1967 e 1997, George Steiner escreveu mais de 150 artigos para The New Yorker. Eram, na sua maioria, artigos de opinião ou ensaios críticos, muitos deles bastante extensos para os padrões de uma revista de periodicidade semanal. Durante os anos em que foi colaborador de The New Yorker, Steiner foi muitas vezes apontado como o sucessor ideal de Edmund Wilson, que, à semelhança de Steiner, escrevera durante décadas sobre uma grande variedade de temas levando a que livros recentes e antigos, ideias difíceis e temas desconhecidos parecessem empolgantes não só para os intelectuais da literatura, mas também para aquele a que em tempos se chamou “o leitor comum”.» [Da Introdução]