7.3.17

Sobre Carson McCullers




«As “vidas invisíveis” que se revelam em páginas de uma prosa que parece tocar o silêncio segundo as flutuações de um blues. O ambiente do sul dos Estados Unidos, onde Lula Carson Smith nasceu há cem anos - 19 de fevereiro de 1917 - e cresceu, morrendo meio século depois sem nunca ter despido o vestido de menina. Nos seus livros vive toda aquela infância presa entre acordes de desolação, e uma adolescência tremida, partilhada com essas personagens que atravessam a juventude povoando cantos sombrios, numa timidez bravia. Um catálogo de inadaptados: figuras que carregam alguma deformidade, física ou íntima, algum estigma social, os seres errantes, as vidas presas por um fio.
E há os sonhos vigiados de perto pela vergonha, as contradições próprias das zonas mais agrestes desses territórios beirando o fim do mundo. O isolamento e com ele a suspeita de tudo, as comunidades como meios de clausura e castigo moral, a intolerância racial, a subjugação das mulheres aos maridos com existências sumidas em fundo doméstico, tudo isso comparece nos seus contos e romances. A sua é uma literatura da defesa dos espíritos desfeitos pelo embate num mundo que preza a forma do quadrado em que as suas dimensões se encerram.
No ano em que se cumprem o centenário do nascimento e os 50 anos da morte de Carson McCullers, a Relógio d’Água relançou o romance com que se estreou aos 23 anos, “O Coração É Um Caçador Solitário”, mas também a “A Balada do Café Triste”, seguindo-se “Relógio sem Ponteiros”, “Reflexos nuns Olhos de Ouro” e “Frankie e o Casamento”. Do catálogo da editora faz já parte uma antologia de contos da autora - “Contos Escolhidos”.» [Diogo Vaz Pinto, i, 2/3/2017, texto completo em: https://ionline.sapo.pt/551644 ]

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