29.8.14

Sobre Crónicas do Mal de Amor, de Elena Ferrante





«O leitor acompanha essa mutação, desde o acto transformador — o aparente suicídio de uma mulher de 60 anos contado pela filha, o sentimento de abandono e traição de uma mulher que se achava no casamento-tão-perfeito-quanto-pode-ser-um-casamento, ou a sensação de liberdade de uma mãe na consciência ferida por um acidente, o alívio de não ter as filhas por perto, o peso de um amor que sente tê-la castrado de si mesma. O que isso lhe desperta é mais uma vez da ordem do não muito bem visto pela sociedade burguesa que gere os costumes. Em cada uma destas histórias, o narrador é uma mulher, um “eu” que se apropria dos acontecimentos no modo como transmite a sua versão. E é esse íntimo incómodo que interessa a Ferrante e a coloca a par de outras escritoras que sondam os limites da dimensão humana e, em particular, do feminino, em monólogos sobre a sobrevivência e a luta entre a moral e o individual, o doméstico e o exterior, a sexualidade e o pudor.» [Isabel Lucas, Público, ípsilon, 29-8-2014]
 
Texto completo aqui.

28.8.14

Sobre Plataforma, de Michel Houellebecq




«Plataforma é um regresso aos primórdios do novo milénio, e ao eterno filão das misérias afectivas. Publicado pela Flammarion em 2001, chega agora numa edição da Relógio D’Água, não menos actual que aquando da chegada inaugural aos escaparates. Atente o viajante da leitura, mesmo sem sair de casa: comprámos um sedutor pacote com pensão completa para a massificação do turismo e da sexualidade nua e crua, para as lascivas romarias ao éden tailandês, para as massagens sem final feliz da solidão, e para a oportunidade do amor genuíno quando o corpo é uma mercadoria com infindáveis valias – um amor ceifado por um atentado terrorista em tempos de islamofobia (o que valeu vários dedos em riste apontados a Michel).» [Maria Ramos Silva, i, 25-8-2014]
 
De Michel Houellebecq, a Relógio D’Água editou também As Partículas Elementares.

26.8.14

Sobre Agarra o Dia, de Saul Bellow





«Pela sua brevidade, Agarra o Dia é talvez a melhor introdução ao universo de personagens em dúvida, esmagadas pelo passado e conscientes da sua limitação no mundo, que povoam os livros deste descendente de russos que escreveu alguns dos mais importantes momentos da literatura do século XX.» [João Bonifácio, Público, ípsilon, 22-8-2014]

Sobre a Violência, de Hannah Arendt







«Detalhando noções contíguas como Violência, Guerra, Soberania, Estado, Poder, Potência, Força e Autoridade, Hannah Arendt traz ao leitor instrumentos para pensar o mundo de ontem e de hoje. Um exemplo simples, distinguindo Violência e Poder: “Quando um deles governa absolutamente, o outro está ausente (...). Se Gandhi se tivesse confrontado com a Rússia de Estaline ou a Alemanha de Hitler, o resultado seria a chacina e não a descolonização.”» [Maria da Conceição Caleiro, Público, ípsilon, 22-8-2014]

22.8.14

Sobre Agarra o Dia, de Saul Bellow





«Agarra o Dia pertence àquele grupo de livros que fazem de um dia todo o seu tempo, como Ulisses, Mrs. Dalloway, ou Um Dia na Vida de Ivan Deníssovitch (todos traduzidos em Portugal). O protagonista da novela de Saul Bellow está longe de ser uma personagem exemplar; contudo, está no centro de um dos retratos mais empáticos e vigorosos que se poderiam imaginar. Bellow foi sempre capaz de transformar a ficção em algo mais do que literatura: qualquer coisa que aspira, com toda a legitimidade, a ser vida.» [Hugo Pinto Santos, Time Out, 20-8-2014]

19.8.14

Sobre Os Sonâmbulos, de Christopher Clark







«Neste ano em que se comemora o início da I Guerra Mundial, cuja descendência mais notória foi a Segunda e o mundo em que passámos a viver, não faltam livros históricos dirigidos ao público culto. Este, de um australiano radicado em Cambridge, é especial. Os Sonâmbulos explica o caminho que levou à guerra, demorando-se nos atos de numerosos protagonistas, desde reis e governantes até militares e conspiradores. Não é só a quantidade de pormenores ou a capacidade narrativa que impressionam. Também a subtileza da análise, bem visível em secções como aquela em que se descreve o ultimato feito à Sérvia e a resposta dada. Ao longo de dezassete páginas que examinam cláusula a cláusula, Clark mostra que quase nada era aquilo que parecia. Nem o ultimato visava realmente ser cumprido nem as cedências da Sérvia eram de facto cedências.» [Luís M. Faria, Expresso, Atual, 9-8-2014]

Sobre Contos e Diários, de Isaac Bábel





«Contista extraordinário, capaz de combinar a maior crueza com a mais subtil ironia, observador exímio, senhor de uma escrita poderosa e inventiva, nervosa, rápida, brutal e alegre, cómica e trágica, acabaria por morrer pela língua russa. Imaginando-se incapaz de escrever fora do seu país, acaba silenciado aos 46 anos. Publicado fragmentariamente em Portugal, merecia tradução da sua obra completa.» [Ana Cristina Leonardo, Expresso, Atual, 15-8-2014]

14.8.14

Hélia Correia na Feira do Livro da Ericeira 2014




No dia 23 de Agosto, pelas 17h00, Hélia Correia vai autografar os seus livros na Feira do Livro da Ericeira, no Parque de São Sebastião.

11.8.14

Sobre Enredos, de Rui Nunes



«Como sempre em Rui Nunes, um fulgor maldito da linguagem, agónico, sufocante, esplendoroso, avassalador, desabrido. Mas a força desta linguagem impõe-se, ou impõe vida, enquanto força e ousadias que por si mesmas contrariam o nada e a morte que apregoa, o negro e terrível que nela se diz. Nenhuma palavra diz o que parece dizer, e o autor sabe-o como ninguém. Mas nem ele escapa ao seu poder enredante e maléfico. Nem à pulsão-paixão extravagante para escavar imparavelmente o real e as coisas, perfurando-os por palavras, algumas já em desuso, num desassombro a que não estamos habituados. Há uma força rude na (a)firmação do sexual, do homossexual – e neste campo ninguém entre nós terá ido tão longe. Seria interessante fazer um inventário de nomes que Rui Nunes emprega e que nos são já familiares.»


[Maria da Conceição Caleiro, Público, Ípsilon, 08-08-2014]

8.8.14

Sobre A Loucura Branca, de Jaime Rocha



«Mais do que uma narrativa sobre a loucura, o segundo romance de Jaime Rocha é um retrato possível e inquietante do quão perto estamos do abismo, ainda que não demos por ele. Para lá cair basta, por vezes, alterar um bocadinho e inadvertidamente o ângulo do olhar.»

[Sara Figueiredo Costa, Time Out, 30.07.2014 – 05.08.2014]

4.8.14

Sobre Agarra o Dia, de Saul Bellow





«Comummente considerada uma obra-prima, esta novela retoma a expressão carpe diem, decorrendo durante 24 horas, 24 horas modelares (e dramáticas) na vida de Tommy Wilhelm, o protagonista, homem que, passada a casa dos 40, se percebe encurralado pelo desemprego, pelo divórcio, pela falta de amor paterno. (…) A partir daí é a habitual e exímia dança de Bellow. Como um pugilista dançarino, vai-nos arrastando pelo espaço/tempo não-linear, surpreendendo-nos com personagens cujos pensamentos estapafúrdios misturam erudição e absurdo (caso do dr. Tamkin, psicólogo e jogador da Bolsa), ironias subtis (Tommy, judeu em apuros, aposta todo o dinheiro que lhe resta no toucinho), retratos cheios de humanidade de vilões e ingénuos. Com um final aberto e engenhoso, Agarra o Dia é um livro magnífico.»

[Ana Cristina Leonardo, Expresso, Atual, 02-08-2014]