31.1.13

Laços de Família, de Clarice Lispector





«Entre nós, poucos são aqueles que têm de Clarice outra referência que não seja o nome, e no entanto, trata-se de um dos mais singulares escritores da nossa língua. As razões deste clamoroso desconhecimento não podem deixar de se inscrever na contenciosa fraternidade que existe entre Brasil e Portugal e que leva a que, salvo raras excepções, as ligações em Cultura se produzam pelas cinturas mais frágeis ou já canónicas. No caso de Clarice, porém, a sua obra tarda de modo inusitado a chegar até nós e por duas razões — a primeira é que Clarice Lispector deixou há muito de ser um escritor de pequenos grupos aficionados para ser, no Brasil, uma referência obrigatória caída no domínio público univer-sitário que a cada hora a faz e a refaz de análises e suposições teóricas.»
[Do Prefácio de Lídia Jorge]


Sobre O Baile, de Irène Némirovsky





Na Time Out (Lisboa) de 23 de Janeiro, Hugo Pinto Santos escreve sobre O Baile, de Irène Némirovsky: «Na novela O Baile, Némirovsky desmonta e subverte a narrativa da Gata Borralheira, invertendo sinais, retorcendo sentidos – agudizando a crueldade dessas histórias. (…) O Baile é, a um tempo, rito de passagem, reinvenção de um género e consumada realização literária. Na sua concisão, opera um breve milagre: em vez de dispersar o seu impacto, congrega-o na elegância dos seus limites.»

30.1.13

No aniversário da morte de Sylvia Plath





Sylvia Plath nasceu em Boston, em 1932. Depois da formação universitária, recebe uma bolsa e parte para Cambridge, Inglaterra, onde continua a escrever e a publicar poemas. É então que, na festa de lançamento da St. Botolph’s Review, conhece Ted Hughes, poeta com quem viria a ter um casamento, filhos e uma relação intensa de final trágico.
No dia em que o conheceu, disse no diário que escreveu um poema dedicado a Ted Hughes do «tamanho de uma página sobre as forças negras da luxúria: Pursuit
Em 1960, foi editado o seu primeiro livro de poemas, The Colossus, e três anos mais tarde The Bell Jar, sob o pseudónimo de Victoria Lucas.
No início dos anos 60, o casamento com Ted Hughes entra em crise, sobretudo devido à relação deste com Assia Wevill (Ted Hughes daria a sua versão do que se passou em Cartas de Aniversário, e Assia, esposa de um poeta canadiano, haveria de se suicidar com a filha em 1969). O casal separa-se em finais de 1962. É no Inverno que se segue à separação e num período depressivo que Sylvia escreve Ariel.
Plath regressa a Londres com os filhos, alugando um apartamento em Fitzroy Road, onde escreveria o romance semiautobiográfico The Bell Jar. Sente-se isolada e deprimida.
Na manhã de 11 de Fevereiro de 1963, nevava sobre Londres e o frio era intenso. Sylvia Plath suicida-se com o gás do fogão, tendo antes tido o cuidado de proteger os filhos.
Em 11 de Fevereiro de 2013, data em que passam 50 anos sobre o suicídio de Sylvia Plath, autora de uma obra variada e em parte póstuma, serão tornados públicos os seus últimos diários.

De Sylvia Plath, a Relógio D’Água publicou o volume de poesia Ariel, o livro infantil O Fato do Tanto-Faz-como-Fazia, e os contos e textos de Zé Susto e a Bíblia dos Sonhos.

Lillias Fraser, de Hélia Correia, no «Índex» do Opus Dei





Num artigo publicado a 28 de Janeiro, no Diário de Notícias, Rui Pedro Antunes divulga vários títulos de obras de escritores e também realizadores que constam numa «lista negra» do Opus Dei, classificadas entre os níveis 1 a 6, o mais elevado.
Na listagem de «livros proibidos», nos três níveis mais elevados, figuram 79 obras de autores portugueses, entre os quais O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, e Lillias Fraser, de Hélia Correia.
Ulisses, de James Joyce, integra a lista de obras com o nível de proibição máximo, assim como obras de Vladimir Nabokov, Truman Capote, Samuel Beckett. Noutros níveis surgem obras de Fiódor Dostoievski, Franz Kafka ou F. Scott Fitzgerald. Ou seja, a Relógio D’Água está bem representada no «Índex» do Opus Dei.

A Relógio D'Água na imprensa





No suplemento Atual do Expresso de 26 de Janeiro de 2013, Susana Moreira Marques, autora de Agora e na Hora da Nossa Morte, na secção Escolhas, destaca, entre outros livros, dois editados pela Relógio D’Água: Middlemarch, de George Eliot, e A Terceira Miséria, de Hélia Correia.


29.1.13

Sobre O Próximo Outono, de João Miguel Fernandes Jorge e Pedro Calapez





«Um ano na vida de um poeta e crítico de arte, um ano preparando o tempo que vai passar. Ao fim desse tempo, projecto acabado, e conhecemos menos o autor do que antes de lermos o seu diário? Talvez não interesse: o que é publicado é literatura, a vida não cabe em letra de forma.»

[Sérgio Lavos, no blogue Auto-Retrato. Texto completo aqui.]

Sobre Vladimir Nabokov


 


«Nabokov escreve prosa como só deve ser escrita: em êxtase.» [John Updike]



Sobre Orgulho e Preconceito, de Jane Austen





«Na tradução do poeta José Miguel Silva para a nova edição que a Relógio D'Água acaba de lançar, a história começa assim: “É uma verdade universalmente reconhecida que um homem rico e solteiro precisa de uma esposa. Tal verdade encontra-se tão firmemente implantada nas cabeças das pessoas que, independentemente dos sentimentos ou opiniões do cavalheiro a respeito do assunto, no momento em que ele chega a uma determinada terra, é imediatamente considerado propriedade legítima de algumas das filhas dos seus novos vizinhos.”»

No site do Público pode ler-se um texto de Luís Miguel Queirós alusivo à comemoração dos 200 anos do casamento de Elizabeth Bennett e Fitzwilliam Darcy.

28.1.13

Sobre Zé Susto e a Bíblia dos Sonhos, de Sylvia Plath





«Mais ou menos “acabados” ou elaborados, os textos reunidos no presente volume valem seguramente por si. Pela riqueza das imagens, pela precisão e abundância dos detalhes, pela naturalidade ao mesmo tempo distanciada e cúmplice com que evocam a infância ou a loucura, pela arte de transformar um episódio aparentemente insignificante numa “campânula de vidro” ou pesa-papéis vitoriano, contendo, abrigando e dando a ver todo um pequeno mundo. Valem também pelas relações que estabelecem, quer entre si, quer, como sublinha o organizador da colectânea [Ted Hughes], com os poemas da autora — relações que tanto podem passar pelo reaproveitamento e reformulação de textos mais antigos (…).» [Da Nota Prévia de Ana Luísa Faria]

Sobre Breves Notas, de Gonçalo M. Tavares






No programa Livro do Dia de 24 de Janeiro, na TSF, Carlos Vaz Marques falou sobre Breves Notas, de Gonçalo M. Tavares, volume cartonado que reúne os três números da colecção Enciclopédia. O programa pode ser ouvido aqui.

25.1.13

Virginia Woolf [25-01-1882/28-03-1941]





«Tenho sonhado algumas vezes… que, quando o Dia do Juízo Final amanhecer e os grandes conquistadores e homens de leis e estadistas forem receber as suas recompensas — as suas coroas, os seus louros, os seus nomes indelevelmente gravados em mármore perene —, o Todo-Poderoso há-de virar-se para Pedro e dizer, não sem uma certa inveja quando nos vir chegar com os nossos livros debaixo dos braços: “Vê, estes não precisam de recompensa. Aqui não temos nada para lhes dar. Eles gostaram de ler."» [Virginia Woolf, no ensaio «How Should One Read a Book?»]

Lydia Davis finalista do Man Booker International Prize 2013


 

Foi divulgada a lista dos finalistas do Man Booker International Prize 2013, e Lydia Davis, de quem a Relógio D’Água publicou Contos Completos, é um dos dez vencedores possíveis.

James Wood, no seu último livro, refere-se à escritora e tradutora como «um tempestuoso Thomas Bernhard».

O Prémio, que no passado foi atribuído a escritores como Alice Munro ou Philip Roth, terá um novo vencedor anunciado no dia 22 de Maio.



24.1.13

Brevemente na Relógio D'Água





«Para os que não conhecem a obra anterior de Sacks, Hallucinations é uma óptima oportunidade para começar, mas para os que já estão familiarizados com clássicos como O Homem Que Confundiu a Mulher com Um Chapéu e o mais recente Musicofilia, há um gozo extra pelo modo como o autor cruza referências de um determinado caso, que resurge e é reexaminado de um outro ângulo.» [Will Self, The Guardian, 08-11-2012]

A chegar às livrarias: É assim Que A Perdes, de Junot Díaz





O novo livro de Junot Díaz, É assim Que A Perdes, é um conjunto de narrativas ligadas entre si sobre o amor — amor apaixonado, amor ilícito, amor em extinção, amor maternal — e contadas através da vida dos habitantes de New Jersey oriundos da República Dominicana e da sua luta para encontrar um ponto de encontro entre os seus dois mundos.
O livro desvenda a inevitável fragilidade do coração humano. São histórias que nos recordam que a paixão pode triunfar sobre a experiência e que o amor, quando nos atinge, tem sempre algo de eterno.
 


Junot Díaz nasceu a 31 de Dezembro de 1968 em Santo Domingo, na República Dominicana, e cresceu em New Jersey, nos EUA.
É autor de Drown e de A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao. Este último ganhou diversos prémios: John Sargent, Sr. First Novel Prize, National Book Critics Circle Award, Anisfield-Wolf Book Award, Dayton Literary Peace Prize e o Pulitzer Prize (2008).
A sua ficção apareceu em publicações como The New Yorker, African Voices, The Best American Short Stories (1996, 1997, 1999, 2000), Pushcart Prize XXII e The PEN/O. Henry Prize Stories 2009.
É editor de ficção da Boston Review e professor de Escrita no Massachusetts Institute of Technology.

23.1.13

Investigadores descobriram gravuras de William Blake na Biblioteca John Rylands da Universidade de Manchester




«Uma selecção das gravuras agora descobertas irá ser exposta na biblioteca John Rylands, da Universidade de Manchester, em Fevereiro. Bastante pouco reconhecido em vida, William Blake é hoje considerado um dos grandes poetas do Romantismo e um dos mais arrojados inovadores na história da literatura inglesa.» [Público]

22.1.13

Sobre David Golder, de Irène Némirovsky





No programa Livro do Dia, da TSF, de 22 de Janeiro de 2013, Carlos Vaz Marques fala sobre David Golder, de Irène Némirovsky. O programa pode ser ouvido aqui.
Da autora, a Relógio D’Água publicou também O Baile e Os Cães e os Lobos, e em breve editará O Vinho da Solidão.

Brevemente na Relógio D'Água





«Brilhante. Nasar dá vida a economistas visionários, de Marx e Hayek a Sidney Webb e Milton Friedman, delineando a evolução do pensamento económico moderno através da história, plena de pormenores, dos que mudaram o modo como pensamos nas possibilidades da vida.» [The Boston Globe, sobre Os Criadores da Economia Moderna]

Sobre Migalhas Filosóficas, de Soren Kierkegaard





«Para que melhor se entenda a concepção cristã de Kierkegaard convém observar sua obra Migalhas Filosóficas, pois é lá que aparece, de forma singular, o conceito de paradoxo e a idéia de que a história humana deve ser vista pela perspectiva do eterno. O cristianismo só é aceitável por causa do paradoxo ou pela força do absurdo, conforme observava Tertuliano. Tal cristianismo se constitui em escândalo, por ferir a lei, e em loucura, por encontrar-se fora da concepção racional. Somente é possível aproximar-se dele através de um outro, e através da experiência apaixonada.

A tese central das Migalhas Filosóficas é transmitida comparativamente com a idéia de verdade socrática. Contrariamente ao que pensavam os antigos gregos, que julgavam que a verdade reside no próprio ser, o autor pseudonímico Climacus afirma a fundamentação da verdade não dentro do próprio ser, mas num totalmente outro, sendo, ele mesmo, a verdade e a condição para compreendê-la. Por isso, não há saída socrática ou maiêutica possível.»

[Marcio Gimenes de Paula. Texto completo aqui.]

21.1.13

Sobre «Sucker», de Carson McCullers, um dos contos de Contos Escolhidos





«… Penso que foi o meu primeiro conto; pelo menos foi a primeira história que me orgulhei de ler à minha família… Escrevi-a quando tinha 17 anos e o meu pai me oferecera a minha primeira máquina de escrever. Lembro-me de escrever a história à mão, e de a dactilografar penosamente.» [Carson McCullers em nota à primeira publicação de «Sucker», em 1963, em The Saturday Evening Post]

Sobre O Vampiro de Curitiba, de Dalton Trevisan





No programa Livro do Dia, da TSF, de 20 de Dezembro de 2012, Carlos Vaz Marques falou sobre O Vampiro de Curitiba, de Dalton Trevisan. O programa pode ser ouvido aqui.

18.1.13

A chegar às livrarias: Ou—Ou. Um Fragmento de Vida, de Soren Kierkegaard






«Ou—Ou. Um Fragmento de Vida é uma obra ímpar dentro da literatura e da filosofia ocidentais, a todos os níveis e vista de todos os ângulos; não fosse a circunstância de, na Europa de então, como na actual, a língua dinamarquesa ficar submersa por outros idiomas dominantes, e certamente que teria sido reconhecida universalmente como um clássico da literatura e da filosofia na geração seguinte ao seu aparecimento. A consciência plena por parte do seu autor de que assim é constitui, aliás, um dos seus intuitos, se não confessos, pelo menos explicados e demonstrados ao longo da obra.

Vista no conjunto da produção de Kierkegaard, Ou—Ou. Um Fragmento de Vida introduz a esmagadora maioria dos conceitos e categorias que o filósofo desenvolverá posteriormente e, para citar apenas alguns, encontramos aqui o estético e o ético, o ético e o religioso, o desespero e a esperança, o amor em todas as suas fases e modalidades, os diferentes tipos e usos do pensamento, a possibilidade e a realidade, a escolha, a liberdade, a recordação e o esquecimento, e o instante.» [Da Introdução de Elisabete M. de Sousa]

A Relógio D’Água na blogosfera






No blogue Verbiário Volátil é apresentado um texto sobre Os Cães e os Lobos, de Irène Némirovsky: «O título do livro, publicado em 1940 na língua francesa, indica dois grupos de judeus, de diferentes geografias e com atitudes distintas relativamente à assimilação: “os cães” são os que residem nos subúrbios da moda e que se esqueceram das suas origens, “os lobos” são os judeus de Leste que procuram conservar as suas raízes e manter as suas tradições.» O texto completo pode ser lido aqui.

17.1.13

Fisiologia do Gosto, de Brillat-Savarin



«A verdadeira certidão de nascimento da gastronomia.» [Alfredo Saramago]

16.1.13

Londres, de Virginia Woolf






Virginia Woolf era uma londrina. Neste livro reúnem-se seis narrativas escritas na Primavera de 1931 para a revista Good Housekeeping sobre os habitantes, as catedrais, o Parlamento, as ruas, as docas e as casas de «grandes escritores» londrinos. Londres flui em sentido contrário à corrente do Tamisa, levando o leitor ao longo da cidade desde a confusão das docas, no extremo oriental, até às vagas de transeuntes de Oxford Street, em Chelsea, na parte ocidental. No final regressa à zona onde começou. No conjunto, Londres é um «passeio» pela mais cosmopolita das capitais europeias, guiado pela sua mais importante escritora de sempre.

Sobre Novelas nada Exemplares, de Dalton Trevisan





Na Sábado de 10 de Janeiro, Eduardo Pitta escreve sobre Novelas nada Exemplares, de Dalton Trevisan. No blogue Da Literatura adiantou: «O livro constitui um bestiário do submundo de Curitiba. A escassez do vocabulário acentua o carácter naïf dos textos. As suas personagens vivem ao rés da vida: pequenas profissões, ambição curta, atavismo endémico, tédio conjugal, sexo utilitário. A concisão é de regra, dir-se-iam os contos de um poeta, mas não consta que Trevisan tenha escrito poesia.»

15.1.13

Brevemente na Relógio D'Água







«As personagens de Junot Díaz amam, ou pelo menos desejam, apaixonada e incontrolavelmente — olham com horror e fascinação, como nós, para o caos dos seus próprios corações — e Díaz convida-nos a observar este desastre ao lado delas.» [Lev Grossman sobre É assim Que A Perdes, um dos livros do ano da Time, Dezembro de 2012]

14.1.13

Yukio Mishima (14-01-1925/25-11-1970)







«Neste conjunto de nove contos e um texto que o autor descreve como uma “peça No moderna”, Yukio Mishima revela aos leitores a extensão do seu talento, ao explorar uma variedade de caminhos até à complexa personalidade japonesa.»

[Robert Trumbull, The New York Times, 01-05-1966]



Sobre Anna Karénina, de Lev Tolstoi





No programa Livro do Dia de 17 de Dezembro de 2012, na TSF, Carlos Vaz Marques fala sobre Anna Karénina, de Lev Tolstoi. O programa pode ser ouvido aqui.

11.1.13

Sobre Um Sopro de Vida (Pulsações), de Clarice Lispector





No ípsilon do Público de 11 de Janeiro de 2013, Maria da Conceição Caleiro escreve sobre Um Sopro de Vida, de Clarice Lispector: «Um Sopro de Vida (Pulsações) é um texto inclassificável. Poderíamos dizer o mesmo de outros de Lispector. Ela é desde o começo uma clave verbal diferente. Mas este é mais inclassificável ainda. Editado em 1978, depois da sua morte (1977), composto de fragmentos que ela escreveu e/ou ditou até o seu fim e que Olga Borelli reuniu, sai-se dele menos incólume ainda do que dos outros livros da autora, porque aqui a escrita surge mais estilhaçada, morrendo-se nela o corpo-alma de Lispector. (…) Saímos deste livro chorando compulsivamente e glorificando o seu esplendor ou ainda, como agora é moda, extraindo máximas, metalepse que a anestesia. (…) É a contiguidade de situações que confere ao livro um trágico esplendor.»

A Travessia, de Cormac McCarthy




 
Sugestão de Ana Cristina Leonardo no blogue Meditação na Pastelaria.

Sobre Cartas a Um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke






«Este [Rilke] é, então, o jovem neurasténico que no final do Outono de 1902 recebeu uma carta de um cadete de 19 anos chamado Franz Kappus, ele próprio um aspirante a escritor, contendo alguns dos seus poemas e pedindo orientação e conselhos sobre a vida literária que iniciava. Imaginem a surpresa e o prazer quando uns meses mais tarde, em Fevereiro de 1903, recebeu uma longa, sincera e atenciosa resposta, a primeira de uma série de dez epístolas (…) que Rilke enviaria ao jovem durante os cinco anos seguintes.» [John Banville, The New York Review of Books]

10.1.13

Sobre Pela Estrada Fora, de Jack Kerouac





No programa Livro do Dia de 9 de Janeiro de 2013, Carlos Vaz Marques fala sobre Pela Estrada Fora, de Jack Kerouac. O programa pode ser ouvido aqui.

9.1.13

Sobre As Aventuras de Pinóquio, de Carlo Collodi






«Reeditam-se as imortais aventuras do famoso boneco de madeira que se transforma num menino de carne e osso, numa tradução de Margarida Periquito, com ilustrações de Susana Oliveira. A propósito da importância de Pinóquio na literatura italiana, Italo Calvino afirmou: “(…) desde que comecei a escrever que o tenho considerado como um modelo do conto de aventuras; mas creio que a sua influência, consciente ou, com mais frequência, inconsciente, se poderia estudar em relação a todos os escritores da nossa língua, uma vez que este é o primeiro livro que todos encontram depois da cartilha (ou mesmo antes) ”. Um clássico fascinante para toda a família.» [No sítio da Agenda Cultural de Lisboa, aqui.]

Sobre O Próximo Outono, de João Miguel Fernandes Jorge e Pedro Calapez






«O Próximo Outono é um diário escrito pelo poeta, prosador e crítico de arte João Miguel Fernandes Jorge ao longo de um ano, entre outubro de 2003 e outubro de 2004. Foi iniciado no dia em que, com Maria Helena de Freitas, começou os trabalhos relativos à exposição Pedro Calapez Obras Escolhidas 1992/2004, no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian. Por entre os preparativos da mostra e as viagens pelo interior do país (belíssimas as evocações da paisagem) reúne, numa prosa de grande pureza estilística, pontuada por alguns poemas e pelos desenhos de Calapez, magnificas considerações sobre a obra do pintor e múltiplas referências à história da arte ocidental, à literatura (Henry James, Genet) e à música, de Bach a Gubaidulina.» [No sítio da Agenda Cultural de Lisboa, aqui.]

Brevemente na Relógio D'Água: O Vinho da Solidão, de Irène Némirovsky



«O Vinho da Solidão é a sua ficção mais autobiográfica. (…) O Vinho da Solidão é parte de uma análise da vida judaica que começa com as caricaturas de David Golder (1929) e culmina na iluminação apaixonada de Os Cães e os Lobos (1940).» [Kate Webb, TLS, 10-11-2011]

8.1.13

Hélia Correia, Fernando Guimarães e Bernardo Pinto de Almeida finalistas do Prémio Literário Casino da Póvoa

 

Foram hoje anunciados os oito finalistas do Prémio Literário Casino da Póvoa, atribuído no âmbito da 14.ª edição do Correntes d’Escritas – Encontro de Escritores de Expressão Ibérica, que irá realizar-se entre 21 e 23 de Fevereiro de 2013.

Entre os finalistas estão Hélia Correia, com A Terceira Miséria, Fernando Guimarães, com As Raízes Diferentes e Bernardo Pinto de Almeida, com Negócios em Ítaca. Além destes poetas, cujas obras concorrentes foram publicadas pela Relógio D’Água, são também finalistas José Agostinho Baptista, Manuel António Pina, Armando Silva Carvalho, Ferreira Gullar e Luís Filipe Castro Mendes.

O Júri, constituído por Almeida Faria, Carlos Vaz Marques, Helena Vasconcelos, José Mário Silva e Patrícia Reis, reunirá no dia 20 de Fevereiro para decidir qual o livro vencedor.

O anúncio dos premiados realizar-se-á no dia 21, pelas 11h00, no Casino da Póvoa, na Sessão de Abertura da 14.ª edição do Correntes d’Escritas.

Sobre O Vampiro de Curitiba, de Dalton Trevisan





No blogue Tempo Contado, J. Rentes de Carvalho escreveu sobre O Vampiro de Curitiba, de Dalton Trevisan: «A primeira leitura, há quarenta e pico anos, deixou impressão forte. A de agora, à luz de mais quatro décadas de vivências, tocou a campainha de alarme e, pudesse eu, saía à rua com um cartaz: Proíbam este livro a menores de quarenta anos!
De momento não recordo personagem que nas muitas e complicadas andanças do sexo, do desejo, da luxúria, do desencanto pré e pós-coital, alcance a triste e trágica comicidade de Nelsinho.
Ele é todos nós, os que viemos depois de Adão e os que nos sucederem.»
O texto completo pode ser lido aqui.

7.1.13

Críticos da Ler escolhem os melhores de 2012





No seu número de Janeiro, a revista Ler faz uma selecção dos 25 melhores livros publicados em Portugal em 2012 (sem qualquer ordem particular).

 


Há cinco livros da Relógio D’Água entre os escolhidos, a saber: O Lago, de Ana Teresa Pereira; Contos Escolhidos, de Isaac Babel; O Lustre, de Clarice Lispector; A Poesia do Pensamento, de George Steiner; e 50 Poemas, de Tomas Tranströmer.
 
Há ainda uma escolha por parte de sete críticos da revista, e também aqui (com doze títulos mencionados) a Relógio D’Água é a editora com mais obras seleccionadas.




Entre os preferidos de Rogério Casanova estão Contos Escolhidos, de Isaac Babel; Rei, Dama, Valete, de Vladimir Nabokov, e Contos Completos, de Lydia Davis.



Filipa Melo escolheu Middlemarch, de George Eliot, A Poesia do Pensamento, de George Steiner, e 50 Poemas, de Tomas Tranströmer.


José Riço Direitinho optou por O Doutor Glas, de Hjalmar Söderberg, Contos Escolhidos, de Isaac Babel, e Contos Completos, de Lydia Davis.


Contos Completos, de Lydia Davis, são também a escolha de Bruno Vieira Amaral, que selecciona igualmente, A Poesia do Pensamento, de George Steiner.


Finalmente, Sara Figueiredo Costa destaca A Terceira Miséria, de Hélia Correia.

O ritmo cardíaco de Jack Kerouac




Francisco Vale


O que distinguiu Jack Kerouac como autor foi a sua decisão de viver as sensações sobre as quais desejava escrever. Frequentou regiões novas da consciência para delas dar testemunho e pagou por isso. Daí que tenha sido o principal criador e o primeiro dissidente da geração beat.

Pela Estrada Fora ligou emoções a alta velocidade a uma escrita a que Kerouac chamou «prosa espontânea» e que procurava captar a evanescente matéria da vida. O romance foi de Nova Iorque a São Francisco através da estrada 66, ligando influências ocidentais e orientais, o Atlântico ao Pacífico, o cristianismo ao budismo zen, num tenso arco narrativo.

Mas o autor de Tristessa foi também a ilustração do verso inicial de «Uivo» de Allen Ginsberg, «Vi os melhores espíritos da minha geração destruídos pela loucura (…)», cuja leitura na Six Gallery, em Outubro de 1955, foi a certidão pública de nascimento da geração beat.

O primeiro livro que Kerouac publicou, The Town and the City (1950), escrito ao longo de três anos, era influenciado pelo naturalismo de Thomas Wolfe. Teve favorável acolhimento crítico, mas Kerouac entrou em ruptura com o seu estilo, sob a influência de Neal Cassady. Foram as cartas que este lhe escreveu, «todas na primeira pessoa, velozes, loucas, confessionais, seríssimas», o relâmpago que iluminou a escrita de Kerouac. A partir daí, acelerou a sua velocidade pessoal, com as viagens automobilísticas, os empregos precários, a marijuana e o jazz, de modo a sentir plenamente as emoções que pretendia narrar. E procurou escrever sobre elas antes de poderem ser elaboradas pela memória e trabalhadas pelo estilo. Viveu ao ritmo das batidas do coração, em uníssono com todo um grupo de escritores e poetas publicados na City Lights de Ferlinghetti.

Morreu aos 47 anos, solitário, alcoolizado e caótico, em San Petersburg, Florida, destruído pelas contradições, ao procurar fazer de si mesmo um herói à altura dos protagonistas da sua ficção (escreveu um ciclo autobiográfico com um lendário Duluoz, que era ele próprio).

A primeira contradição foi a de ter sido um desportista que se tornou escritor. Na adolescência, em Lowell, praticava a corrida e o beisebol, o que lhe valeu uma bolsa para a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, aos 18 anos. A carreira foi interrompida por uma lesão, o que o levou a alistar-se na marinha mercante e, mais tarde, na militar. Foi no regresso a Nova Iorque, aos 24 anos, que mergulhou na vida nocturna da cidade, na frequência das prostitutas, na droga e na amizade com Allen Ginsberg e William Burroughs e com delinquentes interessados na vida literária como Lucien Carr, Neal Cassady e Gregory Corso, uma vida em aberto conflito com as exigências do desporto.

Por outro lado, o Kerouac das viagens através dos EUA e do México, o marinheiro que, em 1943, em plena guerra, realizou perigosas viagens entre Boston e Liverpool, manteve sempre uma umbilical relação com a mãe e a casa familiar. Essa terá sido mesmo uma das razões para o fracasso dos seus dois primeiros casamentos (viveu os seus últimos anos com a terceira mulher Stella, amiga de infância, na casa da mãe, já inválida).

E há também a contradição entre a velocidade americana com que escreveu a versão final de Pela Estrada Fora (num rolo de 36,5 m para não perder tempo a mudar a folha na máquina de escrever) e Os Subterrâneos (três noites de que saiu exausto e «cor de laranja») e a delicada lentidão com que compôs numerosos haiku, esses poemas japoneses de três versos e dezassete sílabas, em que a procura de uma palavra pode requerer dias de meditação.

Em relação com esta bipolaridade literária, há uma outra, existencial e filosófica. Kerouac fez tudo para estimular os seus desejos. Mas ao mesmo tempo procurou no seu impreciso budismo zen a espécie de aniquilamento do desejo e até do eu que o budismo promete.

Kerouac era subversivo em termos pessoais e atravessou quase todas as fronteiras delineadas pelos preconceitos sexuais e étnicos dos Estados Unidos de então. Foi não apenas amigo, mas amante de Allen Ginsberg. Viajou partilhando o saco-cama com Gary Snyder, poeta que é hoje o único sobrevivente da geração beat. Ajudou o seu amigo Lucien Carr a encobrir o cadáver de um homem que este assassinara (foi preso por isso e o seu casamento com Edie Parker foi a exigência do sogro para lhe pagar a fiança). O seu companheiro da estrada 66, Neal Cassady, era versado em reformatórios e citações avulsas de Nietzsche. Kerouac viveu algum tempo com Esperanza, uma prostituta mexicana morfinómana que lhe inspirou Tristessa. A sua maior paixão terá sido uma rapariga negra de Nova Iorque, que surgirá como índia de São Francisco em Os Subterrâneos. Revelou enorme aptidão para consumir álcool, marijuana, benzedrina e cactos mexicanos ricos em mescalina. Mas, filho de emigrantes franco-canadianos originários da Bretanha, Kerouac sentia gratidão pelo modo como haviam sido acolhidos nos EUA. Nos últimos anos da sua vida, demarcou-se do movimento hippie, que ajudara a criar, partilhando com o poeta Gary Snyder a mochila, a nudez em grupo, a natureza e o misticismo oriental. Foi também apoiante da intervenção dos EUA no Vietname, apesar da sua recusa de todas as guerras. E criticou o aproveitamento que estaria a ser feito do movimento beat por esquerdistas, entre os quais o próprio Allen Ginsberg.

E, finalmente, há a contradição entre o autor geracional e o clássico.

É fácil considerar Kerouac um escritor geracional, pois a receptividade aos seus livros foi imediata, como se «uma geração inteira estivesse à espera de ser escrita» (William Burroughs). Kerouac era um narrador mais interessado em agarrar o leitor pelas entranhas, pelo ritmo e a emoção, do que pela elaboração estética associada à grande literatura.

No entanto, Pela Estrada Fora foi um dos cem melhores livros em língua inglesa do século xx na lista da Modern Library e a recente recuperação do «rolo original» constituiu um acontecimento editorial que atravessou o Atlântico. E mais de meio século após a edição do romance, podemos ver o filme que sobre ele fez Walter Salles. E ainda em 2013 Big Sur será igualmente adaptado ao cinema.